Não é legal se sentir emocionalmente tenso, mas um pouco de estresse de vez em quando pode, a longo prazo, realmente ajudar sua memória de curto prazo.
Segundo uma pesquisa feita por neurocientistas na Universidade da Gerogia (UGA) envolvendo mais de 1.200 jovens adultos saudáveis, o estresse mental só é prejudicial quando ultrapassa certos limites, o que parece, em níveis relativamente baixos e moderados, ter um efeito benéfico na memória de trabalho do indivíduo.
No estudo, o teste a que os participantes eram submetidos consistia do reconhecimento de certas ferramentas e faces.
Com os cérebros dos participantes sendo escaneados durante o teste, pesquisadores perceberam que os participantes que apresentaram níveis mais altos de estresse em um questionário, mostraram menos atividade na área de seus cérebros responsável pela memória de curto prazo, também conhecida como memória de trabalho.
Ao mesmo tempo, aqueles que experimentaram somente níveis moderados de estresse mostraram uma ativação elevada da memória de trabalho. Além disso, esta atividade coincidiu com um melhor desempenho no teste de memória.
Os resultados não testam diretamente o estresse, nem se o estresse tem impacto na memória de trabalho, mas fornecem evidências preliminares para sugerir que um link está em jogo.
A ideia de que o estresse pode exercer efeitos positivos e negativos na cognição humana, dependendo da gravidade, parte da hipótese hormese, uma teoria confirmada pela toxicologia. Enquanto a validade da hormese tem sido contestada em outros campos, ela vem abrindo uma nova fronteira de pesquisa psicológica.
Em 2006, um estudo com 20 adultos saudáveis, descobriu que o estresse psicossocial pode prejudicar a memória de trabalho somente quando os níveis de estresse são relativamente altos. Ao contrário, se forem mais baixos, nenhum efeito é percebido.
Estudos como este sugerem que o pré-condicionamento facilita a tolerância de estresse. Em outras palavras, experimentar o estresse pode ajudar um indivíduo a lidar melhor com o estresse mais tarde. Na verdade, lidar com o estresse poderia permitir a antecipação e solução de futuros problemas.
“Com base nesta hipótese, o pré-condicionamento é a base de uma fase de inoculação na qual o organismo é instruído a se reorganizar, preparar e lidar comportamentalmente com o estresse subsequente de maneira mais eficaz”, diz Assaf Oshri, pesquisador de psicologia da UGA, e seus colegas.
Contudo, se a pressão mental ou emocional de um indivíduo aumenta além da que ele aprendeu a lidar, ou persiste ao longo do tempo, o estresse pode ser prejudicial. Ele pode contribuir para tensão muscular, pressão alta, doenças cardíacas, problemas do sistema imunológico, distúrbios intestinais, pior memória de trabalho e muito mais.
Curiosamente, no presente estudo, os participantes que relataram ter uma rede de apoio social mais forte pareciam lidar melhor com seus níveis de estresse. A família e os amigos podem, portanto, ser um amortecedor e protetor contra sentimentos crescentes de pressão e tensão.
Segundo os autores, “os resultados evidenciados neste estudo, demonstram os benefícios cognitivos da exposição a níveis de estresse baixo e moderado. Esperamos que futuros estudos longitudinais possam aprofundar nossa compreensão de como a hormese pode estar por trás do desenvolvimento da adaptação ao estresse e potencialmente resiliência entre indivíduos que vivem em ambientes estressantes”.
O estudo foi publicado em Neuropsychologia. O texto original pode ser acessado neste link.